quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013


FADA

Ilha de gestos e fabulações encantadas
Calmos calculados dedos brancos
Em gotas tua boca tão pequena
Derramar de palavras aladas,
Engenho, nós, laços e atavios,
Outros adereços em outros endereços:
O que me amarra em você é isso:
É esse estar e não querer
E esse querer confuso quando se está.

E deixar-se ficar.

Até quando

Acontecer.


4/4/2011


ESTAÇÕES

Ah, então a vida é isso,
Um contínuo passar de estações
As quatro temporais outras tantas virtuais
No entanto tão entranhada na realidade
Da passagem das horas
Da saudade que aumenta sem limites
Do amor que transborda e faz do coração uma ilha
Do saber que morreste em vida
E já és rosa sem viço deitada na pedra de cristal.

E a vida é isso,
Este estar a vagar de estação em estação
Jurubatuba, Presidente Altino
Que elas jamais se acabam
Osasco, Granja Julieta,
E por onde mais se estiver,
Todas as estações onde eu possa chegar a ti,
A teu nome, calor, tua boca, tua língua
Tuas palavras em mim cio estilete e vidro,
Perfuro-cortante a tua ausência em nenhuma estação.

Era só passar por ela e partir,
Mas não, me encantei com a que não há igual
Me encantei à vista da pérola perdida,
Me encantei com a brasa acesa em chamas.

Era passar e ir, 
Mas fiquei,
E agora moro e morro em ti memória,
E desta estação de espera te espero
Que a vida é isso,
Esse passar de estações,
Às vezes parar, descer do trem,
Deitar palavras ao vento,
Amar
E se deixar amar.

E de novo,
Na sombra do vento,
E sempre,
Partir.

5 de abril de 2011


MEDUSA

Junto o pó da ferrugem à pá do tempo,
Deixando anoitecer as ferragens possuídas da fúria das horas.

Amanhã, quando anoitecer outra noite negra nas asas da borboleta,
Não serei eu
Senão o pó da ferrugem antiga que rugia das ferragens agonizantes de solidão.
Nada mais.

7 de abril de 2011 -  Ricocheteio a um verso de Rita Medusa


AMPULHETA

Dança das carreiras brancas e ordens negras
Vales e crateras intumescidas de solidão
Absinto destilado no coral das caldeiras de fogo
Noite após noite vagando o sentido
Qualquer lado, qualquer direção
Noite vaga, noite despedaçada.

12 de abril de 2011

PREVISÃO

E é por saber que você existe,
Que às vezes sou feliz,
E de outras muito triste.

Porque sei que já existias
E cruel não sou eu que às vezes teu passado encara,
Cruel, minha querida, 
É pensar que isso jamais pudesse ter acontecido.

E eu não reclamo.
O amor é uma coisa bela.

Py, 26 de abril de 2001-O1:36 - Pyrâmide - Quinta-Nova
Passado a limpo em 12 de abril de 2011


LADEIRA DO VENTO

Eu tenho 55 anos.
E não reclamo de nada.
Vivi o que tinha para ser vivido
E vou viver o que vier.

Certo ou errado, humano
Não adianta chorar leite derramado:
Se devo, serei cobrado,
Se tenho a receber, alguém vai me pagar.

Agora, eu não imaginei,
Não imaginei que fosse tão rápido.

27/03/2011

CELEIRO

Não se guardam flores para o inverno.
18.04.2011


SOLIPSISMO

Fico navegando aqui por dentro de mim
Sangue, veias, hálito, vida,
E cada movimento me levando ao próximo
Ato contínuo piscar de olhos, estalar da língua
Mastigar as pontas do dedos dos pés.
E percebo,
Quão longa é a distância entre minha cabeça e meus pés,
A quem comando:
Mexam-se dedos do pé direito,
E eles se mexem,
Assim como giram os girassóis ao sabor do vento solar.

27/03/2011


POUSADA

A tempestade só pode pousar em campos onde há mansidão.

Abril de 2011


SILÊNCIO

Instante a instante,
Vou escondendo nas gavetas e prateleiras,
Nos corredores, nos salões de mim,
Em todos os meus desvãos.
Vou escondendo, guardando em mim
O teu silêncio,
O silêncio da tua ausência,
O silêncio agudo e perfurante,
O silêncio do que foi
E não é mais.

19 de março de 2011

VAZIO

Escrevo pelas paredes do meu crânio,
Por dentro e por fora do meu quarto,
Tatuo em fogo teu nome na minha carne,
E chamo-te, calor, sem que nada me ouça.

É noite, grito em silêncio teu nome,
Os deuses acordam e admoestam-me:
Amar tanto assim..., murmuram
E cobrem-me de reticências povoadas de branco e negro,
Esses pontos finais que só fazem estender essa dor,
A dor de ouvir nenhuma resposta ao chamado.

19 de março de 2011


FONTE

Meu coração derramado derramando você
Tanto as entradas quanto as saídas                                                                      
Preenchidos de ti todos os átrios e vácuos,
Minhas veias todas de você embebidas.

20?03/2011


RAPIDINHA

A vida é mesmo muito rápida.
Você abre os olhos e nasceu.
Se distrai, dá uma piscadela,
E quando os abre de novo, 
Já morreu.

20.03.2011


DEVANEIO

Assim como alguém te inventou,
Queria inventar palavra ou verso
Que te tocasse corpo e alma
Da vida o coração inteiro
E todo o resto.

Inventar dentro do poema o verso nato,
Que te dissesse ao coração,
Como se fosse de ti perfeito retrato,
Cada vogal consoante uma bela canção.

E te cantaria uma verdade
Algo como uma seta na imensidão
Dos vales da vida uma porta de saída,
Para cada dia uma certeira direção.

Queria te inventar uma linha
E com ela costurar o vento quente
E com ele fazer uma manta
Te agasalhar e te tornar só minha.

24 de março 2011



OLHALÁ!

Que papo é esse de 70 virgens no Paraíso?
Prefiro continuar tocando a vida e a viola,
E 70 descabaçadas aqui e agora.

25.03.2011


FATO

A Queda é um acontecimento imensurável para a consciência e mente humanas.

26.03.2011


AVENTURA

Tem certas coisas na vida que são assim:
Você apeia do cavalo, 
Desce os apetrechos e a tralha,
Olha em volta,
Coça a cabeça e pensa:
-Certas aventuras não valem a pena.
Aí pensa um pouco mais e conclui:
-Toda aventura vale a pena,
Mas às vezes a pena que se paga por uma delas
É muito mais alta do que o que se pode pagar.

Com você foi assim:
Entrei sem nada
Saí com menos.
E nem valeu a lição do sal
-Menos é mais-
Tão falada ação
E tanto menos praticada.

Mas passa, tudo passa.
O sal da terra perde o gosto
E as estrelas do céu se vão.

Curso normal da vida,
Não é, não foi, não será te amar em vão.

12/04/2011


VISITA

Vem, morena do sul,
Vem visitar tuas terras do norte,
Meu corpo extensão teu território
Chão de vermelho queimado 
Inteira entrega e desejo teus domínios
Varanda de olhos vivos recheados de pores-do-sol.

Vem, morena, ocupar o que é teu.

15 de abril de 2011

DIAS BRANCOS

Desde a última vez que te vi,
Os dias não passam,
Se amontoam.

E por cima dos dias amontoados,
As coisas todas se misturam,
Umas amontoadas às outras,
Tesoura, folha de papel com versos,
Porta-canetas, grampeador, porta-cartões,
Revistas, livros, telas, canecas, tintas e pincéis.

Claro, exato como os dias à luz do sol,
Todas as coisas,
Umas coisas às outras todas se amontoando.
Em compasso de espera.

17/04/2011


CANTO DA TARDE

Preciso na mesma hora exata,
Como olhar as coisas, iluminá-las,
E precisas torná-las,
O sol vem visitar
E se esparrama entrepernas
O banco virado para a esquerda da janela
Brisa e vida se trançando
A lenha na queima fumaça de incenso
Fluxo das sensações desconhecidas
Eu e você 
Do outro o outro lado do abismo
Universos paralelos em rota
Colisão ou carícia
Ai, morena
-Vinde tormentas e frêmitos indomáveis-,
A melhor coisa está sendo te amar.

21 de abril de 2011


VISITANTE

Quando vens me visitar
De distante ao sul 
Vistosa de madura alegria,
De cores vestida de sol
Na doçura do movimento despertado
Feliz girassol a girar
Assim és quando vens me visitar
Pele doce erva perfumada
Atavios ao colo flor nos cabelos
Pousados sobre  teu plácido rosto
Dois olhos vivos acesos.

Quando assim vens me visitar
De surpresa ainda que dia no céu estrelas brilham
E da minha boca vazam palavras vastas,
Te quero, te desejo, te amo
E outros gemidos e gestos,
Beijo, roçar, afeto, rolar, beber, curvas,
E um sempre mais te querer,
Quando vens me visitar.

20 de abril de 2011


ILHA PARTICULAR

Queria ter um jeito
Um modo certo de chegar
Fosse caminho largo ou estreito
Um jeito de chegar a você 
Agora que te tornaste
De ti mesma ilha particular.

Um jeito de chegar
Sim, queria ter um jeito
Outra vez olhar teus olhos molhados
Outra vez tocar teus lábios de manga rosa
Queria ter um jeito
Outra vez pousar em ti meus beijos
Asas de borboleta em fogo de aurora
Seda a cobrir-te de ardentes desejos. 

Queria ter um jeito
Ainda que corresse o risco
Delírio descida ladeira abaixo sem freio
Gozar contigo o último gozo por um triz.

Queria ter um jeito
Um jeito de chegar até você e colar,
Atravessar da vida esse mar de distância
Um jeito de chegar em você
Um jeito de chegar em você ilha particular.

Queria chegar em você
Fora da via, do telefone, do msn e celular
Queria chegar a você
Me fazer de mar e abraçar
Por todos os lados te envolver
Por todos os lados te beijar
E por fim, ilha particular que és,
Te cobrir e te amar.

22 de abril de 2011 "Você acertou, estou numa ilha particular..."


AGUARDO

Quatro, cinco da madrugada,
Atento vigio todas as portas
Aguço os ouvidos para ouvir bem,
E qualquer ruído é tenso,
O esperar que você entre por uma delas,
Todas as portas abertas
Cinco e meia, seis da manhã
O sol vazando pelas janelas,
É mais um dia,
E para meu espanto vou vivê-lo,
Ainda que sem nenhum encanto
Até o fim irei vivê-lo,
Nos corredores, no quintal,
Em cada cômodo vazio de sentido te chamando,
Pelos cantos a me encolher,
Feito um cão no pátio abandonado,
Sem saber o que fazer, 
Nada entendendo da situação,
Sem entender,
Esperando,
Sem entender,
Esperando o inesperado.

27 de abril de 2011




PRECISÃO

As tempestades só podem pousar sobre campos de mansidão.

2011/Recitado na cooperifa em 27/04


TEMPO

As águas passam, rolam,
E esqueço de contar em mim as gotas do tempo esculpindo
Na carne ausências costuradas pelo silêncio.

Abril de 2011


APRENDIZ DO SOL

Andei pelos campos do sul
Entre as linhas das estações
E por onde passei o sol brilhava,
Aquecendo a natureza e meu coração.

E nas tardes em que o pôr-do-sol prometia noites lúcidas
Claro caminhante da vida e fazendo meu caminho
Em meus passos desenhava o futuro e me dizia:
Quem sou eu?,
Senão da vida do sol um aprendiz
Pássaro desperto na delicadeza do instante,
Alguém que ao entardecer compreende,
O amor, além de desconhecido,
Por vezes é mar calado,
De outras vento voraz, 
Quando não chão sobre nuvens.

Sim, apenas um discípulo do amor
Olhando para o abismo de rosas enfeitado de espinhos, 
Meu coração embalado numa certeza:
Face escura da lua continuas calada
Da saudade me fazendo aprendiz.

30 de abril de 2011/ Com colaboração de uma aliada.


ESQUISITO

As estrelas mudando de lugar,
Umas se acendendo outras se apagando,
A terra real em formato de batata,
A água que sobe aos céus
Em forma de cascata descendo,
A semente raiz que se projeta no espaço
Em tronco e galhos se fazendo,
O olho do homem que derrama lágrimas.

4 de maio de 2011

ANGÉLICA E ESSA GENTE DIFERENCIADA

Ô Angélica,
Tu que vieste de algum chique lugar,
Quem sabe Sergipe ou Buenos Aires,
Tu sabes, vivo saltando de galho em galho,
Igual macaco prego n'árvore,
De estação em estação no atraso,
Direto na linha laranja ligado,
Me diga, me responda, Angélica,
Sou diferente
Ou sou gente diferenciada?

Porque isso não se faz, Angélica, 
Tirar do meu caminho uma parada,
Eu sei, é difícil esse negócio, 
Passagem bem na frente do teu edifício,
Tu dizes e lá está abaixo-assinada,
Aqui em frente à minha mansão, não,
Churrasquinho de gato, produtos pirateados,
Ô Angélica,
Só tu podes me dizer,
Estou num dilema, inteiro perdido,
Será que errei no cálculo?,
Entrei e dei com a porta na cara;
Afinal, Angélica,
Sou diferente de outras pessoas,
Ou de algumas pessoas sou gente diferenciada?

Ô Angélica,
Me responda por favor, 
Excesso de higiene é coisa muito errada,
Não esqueça aquela história,
Trem só anda se for nos trilhos,
Se sair a vida fica descarrilhada.

Ô Angélica,
Tu que tens o destino já traçado,
Me diga, Angélica querida,
Sem a próxima estação,
Como vou chegar em casa?

Ai ai, Angélica tão amada e desalmada,
Me livra dessa angustiosa dúvida,
Sou diferente 
Ou sou gente diferenciada?

15 de maio de 2011


SAUDADE

Estou doente.
Doente de sentir tanta saudade.
Tão doente de saudade que sinto,
Vou morrer, 
Sim, vou morrer de saudade de você.

Estou doente e preso,
Prisioneiro nas amarras da saudade,
Preso de coração trancado,
De toda alegria desligado
Morrendo, quase morto estou,
Morrendo de saudade de você.

Nenhuma novidade me apraz,
Nenhuma notícia por melhor que seja,
Nenhuma música, cantar ou cantoria,
Nada, nada, nada me traz qualquer alegria,
Porque em mim faz morada a saudade,
E estou fatigado e banhado em dor,
A dor da saudade embutida na tua ausência,
A dor da saudade a matar cada um dos meus dias.

Estou sempre cansado, com sono e triste,
Meu coração isolado uma ilha,
Rodeado por esta saudade que não cabe,
Uma saudade de matar por saber,
Estás distante de mim todas as milhas.

E esta saudade invade,
Feito ondas de calor queimando,
A tudo cobrindo negra mortalha,
A luz do sol em meu céu apagada,
À míngua suspenso no ar,
Igual peixe no anzol fisgado na língua.

É assim que estou,
De toda saudade coberto,
Em meio a esse mar de mim mesmo perdido,
Mar de silêncio e deserto,
Vento solar soprando do viver agonia,
Meu coração sem norte,
Sem céu, sem lua,
Carne e alma em sonho perdidas,
No peito essa dor de matar,
A dor da saudade de você,
Minha tão amada mulher querida.


A saudade me engolindo noite e dia,
A saudade de você a me encher de escuridão,
Mergulho na mais gélida e fria água de solidão,
A saudade a me arrancar do peito grito mudo,
A saudade a me tirar da mente toda e qualquer razão.

Estou morrendo,
Vou morrer de saudade de você.

17/18 de maio de 2011