FIO DE OURO
Alta madrugada
Prenúncio de um novo dia
E por dentro das cadeiras e dos ossos
E fora das coisas e no entorno delas
Sobre o altar
Em cima da cama
À mesa de comida
O silêncio das palavras flutuantes pelas esquinas
Em espasmos e soluços inversificáveis
Da mente as pedras trilhadas trilhas
E o topo da montanha
Adaga na memória do granito cravada
E outra montanha
Na boca de Cíntia Cenário "o livro de deus rasurado"
E outra montanha
Não há e jamais haverá algo novo sob o sol
Aqui é o mundo
No silêncio das sombras se diluindo
Em meus dias incontáveis artérias veias vias
Melífluos sorrisos de porcelana pintada
O que pode ser contado, caboclo
São só os dias vividos
E nada mais.
Alta madrugada
E as correntes astro-físico-celestiais arrastam seres
E mandalas iridescentes micros e macros espalhadas pelos reinos
De todos os seres os vivos os imaginários
E os que ainda haverão de Ser,
Saibam todos
É só o começo da viagem
Alta madrugada
Fuga dentro da pele negra da noite o estalido do chicote
Língua lambendo outra carne
Aquela que se nos pega
Se nos gruda no corpo
E nele deixa marcas, cicatrizes, rugas
A língua das horas ardendo no caldeirão
Na vida o fogo a ardência de todo doce veneno
Passado-presente-futuro - eia, vida!
Destilada a tarde em orvalhos de flocos secos
A transparência das ervas molhadas da fumaça de terras verdes
Nas tardes cobertas de ventos acesos pintados do amarelo de Van Gogh.
Alta madrugada
Silêncio no meio das pernas das pétalas úmidas e encarnadas
O peso da sombra da minha mão arranhando a folha de papel
Aos ouvidos escravo me dizendo: sombra é prova de vida
Quando sumir a minha sombra
É porque não terei mais existido.
A vida é curta
E este dia chegará
E assim como agora, as coisas continuarão existindo
Não há nada para contar, caboclo
A não ser as risadas dadas e os dias idos.
E nada mais.
28.06.2010
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