segunda-feira, 15 de maio de 2017

NATO

Primeiro fui um eu nascido.
Havia então acabado de descer
Trilha da barriga de minha mãe,
Vitaluz de cedro e lama.

E de crescer cresceu em mim um sentido
Um desvio de vista e retina
Revelar no olho olhar para o céu
Árvore, pássaro, pé de manga
E uma chuva de gotas pretas,
Jabuticabas de gude embocadas no buraco,
Borboletas chovendo águas de vento,
O rádio deitando na paisagem uma canção,
Meu pai seresteiro entoando boiada
Boi brabo cavalo selvagem doma de sangue
Estendida no varal folhas de lágrimas.

Silêncio de manhãs nuas diluídas em amarelo,
Tarde guardada numa gaveta de sal 
A boca a mastigar ao sol uma garfada de vida.

25.11.2012

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