Há mulheres por todos os cantos da terra.
E se existe entre todas uma mulher de poder
Tu és mais que ela na escala de um a cem,
E na sala das mulheres que habitam a carne
Em meio à treva, és a iluminada,
Porque enxergas com olhos de luz as labaredas da escuridão
E serves de mão e guia aos que se guiam e são amantes da poesia.
Porque poesia, irmã, é uma coisa que está para além da amizade,
Para além do muro e da parede que divide o que é um em dois,
Haja visto, poesia é outro lugar, um outro céu
E uma outra terra
E é todo lugar,
E por isso a poesia está aqui onde estás agora
E só não supera o amor,
Porque a poesia, amada, é o próprio amor.
Por isso te amo com tanto e com tão intenso ardor,
Porque és entre as mulheres,
Nem profeta, nem virgem prometida, nem atriz, nem ateia,
Mas mulher, parte do que se criou na criação e permanece.
Desde o início do começo das coisas,
O sopro vivente de tua voz fluido sutil no azul se espalha
E em tua voz reverbera o que se estende ao longo e ao longe se espraia
Voz que vai além e mais, mágica e deslumbre a se desdobrar,
Sino, cantilena, verbo e canção de gesta, trova e toada,
Cavalgada de vogais e consoantes no tempo o eco da tua voz,
Consonância na fartura de versos e línguas dos homens na grande Babel,
Porque, criadora que és,
Na tua voz está claro e lúcido o nome das coisas,
O véu da poesia em tua voz se rasgando a descoberto os céus,
Qual rosa em harmonia que se desabrocha
E em sacrifício oferta seu perfume ao vento.
Tu que vieste para recitar "A Senhora das Tempestades"
E outros alentos em palavras que se revestem de fogo e encantos,
Ó mulher que cobres meu coração de alegria e espanto
E regas as rugas do meu rosto de barro com lágrimas de sal,
Derramai sobre o pano da terra a tua voz líquida e plena de significados,
Destaca pelo tempo-espaço a força do teu cantar,
E faz vibrar as cordas que se estendem até a morada dos deuses.
No entanto,
Nos limites desta casa de palavras
No círculo dos teus servos-ouvintes, ó sacerdotisa,
Aqui, onde o teto se faz limite é que se dá a magia,
Ó mulher que vestes o vestido de carne nesta mulher,
Eis-me aqui, teu aliado, discreta e encantada cria.
A ti, ó mulher cantante ofereço das horas o dia,
A ti, que carregas na própria sombra outra sombra,
A sombra daquela que tem o mais belo dos nomes,
Izabel, em que o casto e a pureza fizeram morada,
A que traz e leva a boa-nova, poesia, fulgor no firmamento
Cúmplice da humildade de dar-de-si o que a luz revela,
Ó irmã da minha carne instrumento de versos e poemas,
Que aos homens anuncia ser a poesia trilha e caminho,
Luz da palavra acesa no olho da escuridão.
A ti que és mistério,
Da mãe, das filhas, das putas, das pudicas, das impúberes,
Das impuras, das que são ruins e daquelas que são piores,
A ti, que guardas na voz o mistério a ser revelado,
Dentre as colunas, os selos, os paradoxos e paradigmas,
A ti, que és a prova final do numerais que o homem inventou e neles se enreda,
A ti que és a poesia e o despertar dos homens,
A ti que és, ó Rainha,
Mãe deste inexato enigma chamado Homem,
E que aos homens e mulheres fala poesia,
A ti, Edite, o meu olhar.
16.02;2013**
(Aniversário - 16.09)