SENZALA
Ó Senhora das Tempestades
Tu que Alegre e lépida sobes os degraus da montanha
E que quando isso acontece as tormentas do planeta das águas cessam
E Edith (oh, mulher, bem sabes, algumas deusas encarnam mulheres),
Diáfana toca a lira dos imortais
Doce língua espada
Límpida sopra dos lábios encantamentos mágicos
Pelos dedos o pano da fantasia desdobrando gnomos e ciganos
Saltitantes e saltimbancos dedos elétricos
Aviamentos acesos nas vielas dos povoados da memória ancestral
Tempo em que eu era menino
E via meu pai alto como um deus
Ainda mais alto do alto do seu cavalo baio Brilhante
Às vezes esporando com tanta força raça raiva
A doma do destino
Gravada no semblante a lembrança embebida em sangue
Cavalo de sal salmoura cortante
E um viver num galope cego e sò.
Desdobro as escamas dos meus olhos sedentos de um farol
Subo da vida o plano não planejado
Escadarias que me trouxeram a este céu de estrelas
Aqui, onde todas as velas e bençãos estão acesas
Morro do Zé Batidão
Terreiro eletro eclético poético de pedras
Do poeta colecionador,
Ainda tonto da porrada
O verso na boca do estomago
"Ao som do nome que só Deus sabe"
Lira flamejante cordas de aço
O atanor das vogais e consoantes
Fervendo a verdura dos meus
Agora antigos verdes anos.
E tanto mais justa
Quão justa possa ser a geometria das constelações
De repente viagem
Visão miragem do Oriente paisagens
M'boi Mirim, Piraporinha, Chácara Santana
As casas, igrejas, bares, homens, mulheres, crianças
E na parada, ali mesmo na praça
Jairo guerreiro d'África-Mãe
Da janela do seu táxi tremulando ao vento a bandeira
A letra escrita na memória
Ardente a experiência da palavra
Risco de faca sem escapatória
O jorro do corte da navalha
Sangue, suor, saliva e marmita
E de mistura na sacola a vida na perifa.
E a vida é um trilho que um dia se acaba
Alguém já deve ter dito
Pode ser planície, abismo na terra
No céu, no fogo, na água
No ar que respiro as articulações precisas do poeta
Em meio ao barulho de ossos guardados na gaveta
Alça de mira levantada na risca
Preciso tiro no acerto de contas do passado.
E rio do rio que vai passando e mergulho
E nado de braçadas livres nessas águas
De tantas cores
Claras umas escuras outras
As minhas abissais visões de seres em movimentos de perpétua inquietação;
A poesia é trem carregado de luz e mistérios profundos
Ave de arribação migra lugares
E muitas
E longas distâncias;
Eu migro da vida degraus (saraus) e tento:
Desvelo da luz clara compreensão
Dos mistérios, P A L A V R A , precisa revelação.
18 de Setembro de 2009 - Lançado Cooperifa **
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