segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013


TRÊS PONTOS

Não posso negar o escrito
Se sou projeto de terceiros
No projeto alguma coisa projetada errada foi;
E se foi permanecerá indo
E permanecerá sendo.
Assim sendo, lento pouco presto
Logo, permaneço errando
Errante permanecendo.

Não, não te farei vãs e confusas confissões
Menos ainda a dança do jogo de palavras
Herméticas mensagens cifradas em papel almaço algodoado de sangue
As linhas da vida entre o aço e o fogo
Gravada nas mãos a entrada e a saída
E de um e outro lado a mesma porta
Ao pé do impossível em mim plantada
Passagem de e por todas as coisas, mil coisas
Tão mal resolvidas quanto o dia de hoje.

E em você essa urgência ácida e nata à dor
Sobre o tapete roído da rotina diária
'Vem beber comigo a feroz agonia dos dias vividos'
Dizes no fulgurar dos dias já amanhecidos.

Mas o dia será longo e antevejo
Ó, livrai-me de todo o mal
E das carências e ausências assim descritas
Livra-me para que de novo eu reescreva
E repita noite adentro  o mesmo verso
'Vice-versa a noite precede o dia';

Tua face reflexo em minha face
Entre nuvens brilhantes estrelas
Entretelas virtuadas de uma entrevista realidade
Beijos molhados entre eu e você olhos de amêndoas
O óleo escuro de minha e tua existência a escorrer entre coxas
Entre lençóis deleite lavanda lavados
O desejo da carne, amor, é doce, doce, doce.

Mas não, eis o açoite do gozo saciado
O compromisso das noites solitárias sobre a cama vazia
A secura das bocas feridas no desejo comungado
Entre pernas do céu e da terra
Entre estações
Entre passagens de estações
Entre duas coisas ou mais divididas
Eu, você
E as reticências.




30 de agosto de 20l0

Nenhum comentário: