quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

CARRO DE BOI


Eu desço as esquinas
Pedra d'água no caminho
Da minha vida cortando estradas
Tantos pontos de partida,
Tantas rimas e estações de chegada.

E de repente
Parado no tempo
Escondido nalguma dobra do espaço
Claro vejo o carro dourado,
Em preto e branco a memória
Fotografia dos meus dias de alvorada,
Retrato de um tempo jamais esquecido
Dentro do próprio tempo retratado.

São meus dias,
Às vezes contente,
Doutras de saudade dilacerado,
Sou eu minhas minas de ferro e café
Dentro de mim parto de lembrança,
Entranhadas nas fibras do meu coração
Já distante, no entanto tão próximo
Pela terra, na poeira, no ar espalhado o som
Um som sem igual
Imaginário, blues, guitarra
Toada chorada na viola,
A tristeza cantada na partida da manhã,
Em criança a alegria,
Meu pai tão brilhante quanto um rei vestido de ouro,
Em minha memória criança
À tardinha quando meu pai voltava
Do campo onde havia colhido estrelas,
Ao longe o som nítido e rangente,
À tardinha o carro de boi cantante
Na boca da noite silente
Quando meu pai p'ra casa voltava.

Saudade.
Lágrimas no escuro em saudade banhada.

1 de julho de 2011**


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