Acho que me levantei meio bêbado ainda;
Ainda que nada tenha bebido na noite passada.
Sei que tive sonhos turvos,
Pesadelos peso pesados
Porre de poema em linha reta.
Vede que absurdo destino,
Acreditei-me poeta
E quis convencer o mundo inteiro disso e pior:
Gastei suor, lápis, giz,
Decorei prosódia declamei prosopopeia,
Fiz revoluções de bolso acesas em palitos de fósforo,
Desfraldei bandeiras de fogo ao céu e léu
Ao som de hinos febris em letras de sabor gris.
E por muitas e muitas mulheres amado.
E de ser homem
Nas mulheres fiz filhos e filhas.
E de me fazer poeta
Das minhas amantes -as palavras,
Desgovernei-me em alucinações e escrevi maus versos.
Ainda bem que acordei.
Ô dor de cabeça da porra!
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