Nem mesmo sei como é,
Mas há instantes em que o percebo,
Amo o ser humano.
E de perceber isso vivo em mim
Aquele instante que era e foi
No mesmo instante -desapareceu.
E uma angústia profunda me invade
Porque me compadeço dos aconteceres
E claro percebo a contraparte em mim,
Ao outro meu igual eu ofendo
E dele me alimento de sentimentos malignos
Olhos de vingança e mastigar de raivas
E outros sentires crus cruéis primitivos pintados de sangue.
E desta angústia vejo com clareza quanta desama se faz
E ai! coitada da palavra humilde em mim
Floresceu em desvios o nosso coito
E os filhos que tivemos têm por nome Orgulho.
E me compadeço até mesmo de mim mesmo
Criatura de alguma coisa provinda igual todo mundo
Que não sei de qual origem é nem de onde veio.
E claro vejo, ainda que veja ao longe, longe
Ser uma criatura humana é uma dura lição.
Quando serei humilde?
Como poderei ser humilde se sei que ser humilde exige mais do que amar o ser humano,
-A isso se chama ausência de vaidade-
Que eu sou o verbo
Mas sei, ao final das contas e na conjugação
Não sou nada
Nada serei
Que tu és
Que ele é
Que nós somos
Que vós sois
Que sei o que és
Que sei quem ele é
Que nós -mesmo a torto e a direito- somos
Que vós sois, etc e tal
Mas, dizei-me vós que sois:
-Quem eles são?
Como amar a cada ser humano?
Como nele se refletir como claro espelho revelado?
Como ser humilde o bastante
Sendo eu mesmo um ser humano?
Só jogo de palavras num xadrez verbal feito de barro e saliva,
Que se eu pudesse mesmo jogaria uma bomba no vizinho
Ao outro calaria a bala o uivar de seus cães e cadelas e o berreiro das gatas no cio
E depois dormiria tranquilo igual a gente imagina que dormem os anjos lá no paraíso.
E acordaria muito muito estranho amanhã,
E a tudo estranharia
Porque não seria o que sou,
Estou bem certo, homem animal que sou,
-Ou antes seria animal-homem
Que não sei o imperador que impera em meus impérios hemisferiais cerebrais:
_Seria o racional ou o irracional?
Já que no mesmo instante em que o digo
-Eu amo o ser humano
Para já no instante seguinte surgir bruta a contradição:
:
Como poderia dar-se isto em sua totalidade
Sendo eu o que sou
-Melhor dito seria que pensa que sabe-
Amar o outro sem uma única rusga que seja
Só de vê-lo, -estremecer-
O outro que sou eu
O ser humano
Amá-lo.
10.10.2016**
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