VERTIGEM
Desdobra-se, feito negro profundo abismo
Diante de meus pés o tapete insondável da noite
Em toda a sua extensão a vertigem dos dias,
Tempo-espaço recheado da teia das galáxias,
Nuvens de gás, buracos negros, quasares,
Distâncias incompreensíveis
E mistérios que jamais ser-me-ão revelados.
Embriagado do torpor das horas,
O sangue nas veias a latejar vozes do passado
Entre as mãos seguro meu crânio e me percebo,
Sou uma armação óssea recheada de carne e sangue
E por um instante quase acredito,
A vida é bela, larga e iluminada a estrada,
Para no instante seguinte me deixar cair na real:
A vida, em verdade, é um abismo de indecorosas misérias,
Dores lancinantes edulcoradas pela inexplicável e humana,
Tão absurda, estupidamente humana esperança.
Largo a pesada cabeça de entre as mãos e deixo tombá-la,
Outra vez a esperança se arrastando ao meu lado
Sombra dos meus mais impossíveis desejos,
Meus dedos mergulhados entre lágrimas,
Em fuga a translúcida e desvairada alegria vivida,
Momentos que dividi com alguém amado,
O vento solar soprando em mim estranha fantasia,
Pesadelo que se rasga e se renova entre os dentes da razão.
E enquanto desato metáforas e amarras de nó cego,
Ao longe vejo vindo em minha direção a madrugada.
Penso repouso entre as brumas do cansaço,
E de adormecer acordam em meu coração bocas de pavor
O orvalho dos séculos respingando ressumar de espinhos,
Sobre as pétalas do destino o derrame da melancolia das eras,
Até o inexorável amanhecer.
02.02.2013
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