RAÇA
Aqui nesta seara
Onde vejo os pés da raça plantados
Em mim mesmo reconheço e vivo:
Eu sou um naco, uma partícula da raça
Que é essa cor que corre em mim e é Universal
Porque só existe aqui neste canto do Universo
E a essa coisa quente correndo em im
Deu o homem o nome de sangue.
Raça humana
Ô Raça Humana
Uelá Raça Humana!
Aqui neste terreiro
De chão senzala onde se plantam palavras
E escuto meus irmãos
E minhas irmãs de todas as etnias
Branca negra amarela vermelha
E a mais nova, a quinta delas, morena
Eu escuto suas tranças suas cores seus bailados
Seus cantares seus odores seus guizos anéis
Seus vestidos, seus cantos de louvor à liberdade
E ouço em meio a esta alquímica mistura
Suas línguas e fardos
E me espanto: Como é diversa dita em versos
Desta raça os fatos
E no entanto é uma coisa única e só:
Raça humana, ô raça humana, uelá raça humana!
Aqui neste canto de céu
Debaixo de uma laje de estrelas
Reunidos os chamados
Irmãos e irmãs
Onde o que se ouve é prece
Silêncio da mais doce e penetrante oração
Canto do falar de homens e mulheres
Seja a prosa monótona das ladainhas em arquitetura galgando paredes
Ou as liturgias satânicas dos inquietos de alma descambando abismos
Ou os pedidos descarados das almas fracas e vilipendiadas pelo escorro social
Ou as versificações cultas das vozes emanadas dos currais das classes mais favorecidas
Ou as filigranas ocultas nas frases encartadas e labirínticas dos infiéis da liberdade
Ou as elucubrações fáceis e falsas da boca dos profetas de igrejinha proclamando misérias e dízimo
Eu escuto da boca do homem as palavras
E nelas tantas outras longas e longas rezas e falações falaciosas
E de olhar à volta uma certeza:
Só há uma coisa no Universo que foge à definição: a raça humana.
Ô raça humana
Uelá raça humana!
4a Versão - mês 9/2009 - leitura em saraus
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