sábado, 23 de fevereiro de 2013



NOTURNO

-adágio-
Alucino estrelas nos olhos da noite
Quieto soluço o silêncio das eras
Erva a rugir da terra um espanto verde
Cão a uivar irremediável saudade
Canto de voz humana cantando espinhos.

-andante-
Mastigo o silêncio das gotas d'água
Embalo o nascente e o poente das coisas
Me sabe e sobe  do ventre um clamor
Telhado de nuvens  chovendo lágrimas
Gemido de parto de pedras
Tapete de cachos de serpentes molhadas:
           São as eras 
           E delas o meu silêncio conta de todas as idades.

E lá me vou 
E lá me lavo 
Mais velho e mais antigo que todos os sóis da Via  Láctea.

-adágio-
Punhal de nuvens na retina
Gozo por ser vivido, beijo por ser dado
Estranho gosto em mim 
Uma certeza meio enviesada:
Oh, como é cruel compreender esse céu de pérolas incendiadas,
Oh, como é cruel beber desse doce fel de amor anunciado. 

28.01.2009  **

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