NEGRA
Eu abri em mim as portas do século XXI
E sou o que guarda as coisas do passado
Engavetado entre papéis, chicotes
Alfarrábios que contém
Dois, três, quatro milhões nomeados
Nem Um nem Dois
Foram milhões os desterrados;
E meu coração arde a culpa do degradados
Dos sem pai, dos sem mãe, dos sem irmãos
Dos separados dos outros;
Arde em mim a culpa dos grilhões
A dor dos que foram atados
As mãos presas ao destino do pelourinho
Cruel espólio de si mesmo
E tudo quanto
À força
Ficou para trás.
Adeus Mama África
O horizonte descobrindo outros montes
Terra brasilis tapete verde de cana
Ouro café e caldo de sangue
A pele preta dos pretos presos pregadas nas argolas
Grilhões e correntes que ainda calam e gritam
Na memória do tempo riscadas todas as cicatrizes,
Dentro deste disco impagável que gira e move
O mundo o sol e as estrelas;
E eu que busco um guia nesta escuridão
Alguém que possa dizer algo
Para que então eu possa compreender:
-Afinal, o que é consciência negra?
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23 de novembro de 2009
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