sábado, 23 de fevereiro de 2013


DERRADEIRA

E um dia
Ou dia menos dia
Mas certamente num dia certo
Ou num certo dia
No ar me ficará suspensa a respiração
E desta não haverá a natural sequência
Expirar para poder continuar pensando e existindo.
E não só esta, mas suspensas no espaço tempo 
Toda e qualquer outra sequência para todo o sempre.

E vejo isto com a mesma absurda nitidez
Da leitura que faço dos poemas de Pessoa
Dia menos dia
Resultado da soma de todos os meus dias vividos
Preciso número das horas acordadas
Claro algarismo de quantas horas dormidas
Na redundância do diamante finalmente polido e lapidado
Sem aviso prévio, ainda que já cansado de ser avisado
Breve, único e sem retorno
Derradeiro fôlego, último respiro a ser dado.

Claro e tal como quando acordei nesta manhã
Cada exata palavra compondo suposto verso
Sobre a linha azul da folha em branco
Vogal por vogal consoante significado e significante
Embalado por um incômodo e insistente pensar:
-Vou estar tão  lúcido como agora no último instante?

01.03.2009 **


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