A VAGINA E A LIBERDADE
(mas poderia se chamar "as palavras")
Eu penso na vagina
Esse abismal estreito em que mergulho a vontade
E derramo o meu desejo
E analiso:
A sua estrutura, sua cor
Seu desenho, sua textura
-Que todas de carne
Mas cada uma com sua nervura própria-
Forma, cheiro, gosto, umidade
Tudo que envolve o mistério daquela fenda pela qual saí um dia.
E uma delas, pode enlouquecer;
Muitas, então, nem se fala.
Eu penso na liberdade
Essa coisa que está no meio de nós
Essa coisa que está entre ser uma palavra
Um sentimento
Alguma coisa vaga
Distante e ao mesmo tempo tão próxima e viva
Pela qual sei que estou sempre aspirando.
E analiso
O que me falta no quesito liberdade?
Por que sinto culpa por ter liberdade?
Por ser pardo?
Por ser negro?
Por ter parentes africanos?
Por ter antepassados pretos e escravos?
Ou tudo junto?
Mas afinal
É uma crise de identidade a liberdade?
E essa incapacidade de me posicionar no espaço dentro do tempo?
Mas afinal,
É a liberdade um estado de consciência do ser
Dentro da qual a realidade se manifesta ao homem
Como bem estar comum de todos, incondicionalmente?
Porque vejo que a estrutura social tem falhas de alicerce
E isso abala todo o sistema;
Parece discurso
E as cores nele projetadas não revelam
Confundem;
Os desenhos mau alinhavados entre etnias
Não corrigem os desvios da diversidade
Antes, distraem-nas, apenas.
As texturas das relações sociais sempre remendadadas
Ao invés de entretecidas entre si
Resultam embaralhadas
Diferenças não resolvidas.
A forma distorcida como é encarada
A liberdade moral
Social e política do indivíduo
Encarcerando-o em função de sua posição na sociedade
E por consequência inibindo a sua livre manifestação como pessoa humana.
O cheiro forte das senzalas do passado ainda minando a conduta
Sugando a força da auto estima no presente
O gosto do sangue derramado nas pedras áridas dos pelourinhos
Clamor da alforria
Hoje vagas na Universidade
Estatutos mil promovendo shows de igualdade
A umidade que se espalha, penetra e desmancha das coisas a unidade
Inclusive o mistério que embrulha essa coisa
Que com certeza não é uma estátua:
A Liberdade.
Sou sei que dela saí um dia
E a ausência dela, amarga prisão, pode enlouquecer.
Eu penso no cu...
10 de Setembro de 2009 - Lançado Sarau da Ademar
Nenhum comentário:
Postar um comentário