POETA

É o que não sou.
Antes sou
E sou
Um especulador de palavras.

E nada mais.

31.12.2014

2014 e a passagem

Aos que vão me colocar no caixão um lembrete: gosto de andar com os sapatos limpos, engraxados, brilhando. Mas isto só enquanto ando.
Logo, indiferente se vou estar calçado ou não quando me deitarem no caixão.

31.12.2014

DESENHO

Todas as coisas são a expansão de uma esfera.

Todas as coisas são um círculo em contínua expansão.

22.12.2014

PERSPECTIVA DIVINA

Sim, os deuses têm razão:
Sob certo ponto de vista
-O deles-,
O caos é bom.

Então, por causa e efeito,
Todas as coisas são boas.

Do ponto de vista d'Eles.

30.12,2014**

DOMADOR

Demônios:
Se meus
Quem haverá de domá-los senão eu?

22.12.2014**

OCULTADO

Não nego,

É atrativa e sei que está perto.

E creio, será mesmo uma grande surpresa.

Afinal,

Como imaginar o jamais antes visto?

Sim, porque imagino,

Só posso imaginar a partir do que já foi avistado.

30.12.2014

ESCOLA

Não,
Não há,
Em absoluto,
O oculto.

O que há
É o que está
Ocultado.

30.12.2014

CAVERNA

E saí porta afora
E olhei para a luz.

O que é isto?
O que é tudo isto?

Fruto do conhecimento do bem
E do mal?

Sacanagem de Satanás,
Contrassenso e alucinação de Lúcifer?

O que é isto?

E vi sob o manto do céu azul
Águas brancas e negras águas
Clara nelas escrito:
Nada, menino!
É tudo invenção dos deuses
E tudo é criação de Deus
Menino.


30.12.2014

FILOSOFIA DE PORÃO

Há somente uma razão para se ser alguma coisa.
Ser o ser que se é.

30.12.2014

TRANSFIGURAÇÃO

É um jogo.
E o jogo é claro.

Você cumpre as regras,
Evolui.

30,12,2014**

CAUTELA

Devagar com essa luz aí na minha cela.
Excesso de
Causa cegueira e
Desorientação.

Sou feito de sombras.

30.12.2014**

ELA

Pintar a cor 

Como quem tira do instrumento 

Um som.

Cada cor valendo uma nota,

Cada nota de cor marcando um tom;

Para então se dançar ao som da tela.

29.12.2014**

SENTIDO

A pele da minha retina estremece só de te ver.

26.12.2014

PARADOXO

A velhice é uma coisa bela.
A velhice é a coisa mais horrenda que pode haver sobre a face da terra.

23.12.2014

TINTA FRESCA

Pintura

Carne negra untada de mel.

22.12.2014**

NECRÓPOLE

Fui fazer uma visita a uma casa.

Minha futura casa.

E de todo homem.

Andei alamedas de sombras e descanso,

Pisei as folhas e flores vermelhas do hibisco selvagem,

Vi as campas encimadas de estátuas e cruzes,

Sobre as lápides de ferro e bronze e mármore

Escritos igual num livro os  nomes dos homens

E os nomes das mulheres que viveram

E da fumaça da vaidade tragaram.

E morreram.

Reparei nas tumbas, túmulos, sepulturas,

As rasas, de gaveta e as profundas

E para quanto substantivo houvesse,

Por todo lado que olhei

O que vi foram ossos de humano existir,

Esqueleto desconjuntado

Em meio à terra 

Entre si e entre outros misturado,

À flor da terra viva

No para sempre sono dos mortos a sonhar.

Quando voltei da visita

Estava acordado e lúcido.

E me sentindo mais vivo que o normal do que o que se vive todo dia.

Tão acordado e lúcido
E vivo que pensei.

"Penso,

Logo, existo".

Existo. 

Logo,

Sou pó que ao pó tornará.
E acabou.

22.12.2014**

ALMA

Outra vez
Mais uma vez
E outra vez
Dentro do pensar 
A contingência do pensar ser .


Arte
Ciência
Religião
E o saber:
A ignorância e escuridão em que vivo é incomensurável.

É grande, muito grande em mim o que não sei,
Microtúbulo da árvore das indagações
A realidade tão clara
Em mim a expansão da energia quântica do universo,
Que não sei o que é isso,
E menos ainda do que não é,
E o que creio ser luz
Em verdade é espessa treva.

E creio ver na treva a própria luz,
E é treva sobre treva o que vejo e existo
Porque matéria.
E fim.

04.12.2014