quinta-feira, 17 de abril de 2014

POETA


Eu vim aqui e agora pergunto:
O que posso dizer em meio a tantas palavras?
O que posso falar com minha língua de lama?

Que dizer?
Que tudo são verdades já  ditas num poema em linha reta?

Verdades estupidamente indeléveis?

Dizer algo de mim mesmo
Que sou o mais tolo dos homens 
Não entendo da matemática o seu véu de números infinitos,
Afinal, para que me servem números que são infinitos,
Se ao cabo, ao cubo e ao quadrado sou o finito,
O que começou e antes de sê-lo já terminou?

Bem, 
À parte nada haver de novo sob o sol
E a vida ser, segundo Albino, 
A escola do cinismo,
De acordo ou não,
Que posso dizer depois disso, pessoas?
Quiça, 
Olhai, 
A galáxia gira em torno de um sol,
Ou, 
Este universo em que vivemos é tão somente um deles de muitos
Inumeráveis:
Não vos esqueçais, estamos amarrados ao pé do infinito.

Ou deveria perguntar,
De que serve o verbo se não se sabe conjugá-lo?
De que vale o verbo,
Se o pretérito não faz sentido no presente
E o futuro é o mais-que-perfeito imperfeito?
O que falar, 
O que fazer brotar da boca
Flor ou fruto
Doce ou fel
O quê, afinal?

Que discurso com algum
Sem nenhum sentido
Posso discursar agora?

Qual o sentido da revolução?
É a arma ou a palavra?

E o sentido da coragem?
É bradá-la na surda multidão?

E qual o sentido do amor?
A falácia de falá-lo sem prática?

E quem precisa saber para onde vai o amor,
Quando não se sabe da vida direção ou sentido?

E vejo que em nada
Há sentido 
Algum
Nisso.

No mais
Eu nada sei.
Eu não sei de nada.
E de assim saber nada saber 
É que faço o que faço.

Consentido.
Com sentido.
Com sentidos

17,21.04.2014**


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