terça-feira, 26 de novembro de 2013

MÁQUINA DE LAVAR

Mas a máquina de lavar está parando
Estacou
Terminou
Ainda mais uma vez a velha máquina teve fôlego
Ainda mais uma vez com precisão
Até o último instante com força
O sublime ato e movimento de centrifugar,

Que é como me sinto agora,
Só que num jogo de contra forças
Em que ao mesmo tempo que sou arremessado
Como se estivesse preso à cauda de um cometa
Por outro lado sou esmagado para dentro
Com se no fundo do oceano estivesse pregado,
E o que por um lado liberta
Por outro aprisiona
E o que era para ser harmônica rotação
Em confuso girar se transforma
Não sei se a revolução dentro da translação
Ou ao contrário.

Abri a máquina de lavar,
Olhei para dentro e fundo vi o abismo
E nele de braços retesados e cabeça afundei
As roupas encolhidas umas às outras grudadas,
Agarradas ao limite do paredão cósmico
Quietas, congeladas
Igual um dos muitos deuses houvesse ordenado,
Até aí, 
E não mais.

E é assim que sinto
Como se estivesse em dentro uma centrífuga
E dela em pleno vigor e girar fizesse parte
Um coisa como que uma osmose às avessas
Membrana que se entranha 
Se engana
E se estranha em outra membrana,
E todo movimento me puxasse para dentro e para baixo,
E por cima e por todos os lados apertado;
E tudo para.
Estaca.

E imagino no tabuleiro o jogo dos reis
Deuses, potestades, forças do além-éter e do fogo,
Tronos, querubins,
Uma nuvem de poderes a distribuir ordens umas
Contra ordens outras,
Qual fosse a região em que habito um circo de rodeio,
Ao domador
Obediência,
(Às vezes rosnando).

Tiro a roupa da máquina

Dentro do cesto jogo o universo,
E ao vento estendo no ar peça por peça
Camisa calça toalha meia lenço lençóis
O universo separado em pedaços.

E acima
Sobre a cabeça
O grande céu
E nele ejetado o sol no seu ofício de secar as roupas no varal.
E dentro
Todos os outros.

11.11.2013







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