quinta-feira, 22 de agosto de 2013

IDIOSSINCRASIA


Sou o que perdeu o nome,
E quando tive um nome
Mudei-o para outro nome.
Ando pelas beiradas, esgueiro-me,
A vida é bala dum-dum que se espalha,
E estou onde estão os deserdados
Seja no centro seja periferia não falha.

Jamais me sentei à mesa do rei,
Nem dos príncipes e seus acólitos e suas mucamas,
Não, sempre estive do outro lado da margem,
Do outro lado da rua na praça,
Junto aos que fumam a erva dos sonhos errantes
E bebem líquidos armados de projetos em versos ornados.

E se escrevo isto,
Só o escrevo por isto,
Por esta única razão,
Porque havia de escrevê-lo e nada mais.

Só sei escrever assim e perguntar coisas:
Correr para onde se sou aquele que perdeu a hora da partida?
É preciso me proclamar "poeta" para escrever palavras que se levantam do barro?
Fugir para que lugar se em todo lugar estarei comigo?

Depois tusso desesperadamente,
Uma tosse seca e violenta
E me convulsiono inteiro
Minhas entranhas todas saindo fora do lugar.

É assim que penso estar,
Em todo lugar estou fora do lugar,
E em qualquer lugar que estou,
Na procissão, na Praça da República,
No sarau e nas casas de livros,
Na avenida Paulista e no trânsito de volta para casa,
Em meio à multidão de outros solitários sem nome,
Sozinho.

De navegar, 
Meu navio se arrojou por mares desconhecidos,
Naufragou mistérios de outras eras que de nada servem agora,
Bússola quebrada ao léu,
Muda o mar e a terra e muda o céu,
Tudo muda
E nada resta a não ser pedra sobre pedra
Pompéia, Pirâmides, Roma, Machu Pichu,
Apenas pedras amontoadas em desalinho sobre a terra.

E histórias que ninguém sabe contar.

E se há motivo nisto tudo
Este é exatamente o motivo,
Escrevo do que sei
E sei só sei de mim,
Pó de estrela molhada que se decompõe em palavras,
Lama, alfabeto, verbo, substantivo abstrato, sujeito,
Predicado e sereno ouvir ouvinte:
Mozart, Jimi Hendrix, Alcione, Amy,
E cantar canções da minha língua;
E sofrer algum blues.

E ler livros e olhos de pessoas,
Para pensar o que ser.

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