sexta-feira, 1 de março de 2013

O SILÊNCIO DAS HORAS


O silêncio das horas
Que em silêncio por todas as coisas passam
Passando presente passado e futuro,
Forrando em musgo e pó os muros e catedrais,
Frente às ampulhetas gotejando grãos de areia
E por dentro e por fora carcomendo alguidares de ouro.

Corte lento fino fio da navalha na veia jugular
Asa  fogo corrente terra céu e vento,
Cacho de estrelas num carrossel de luz,
Do silêncio das horas bebendo e vomitando
O silêncio que se escuta e a tudo silencia.

Do silêncio que ao homem modifica
Trança dos ciclos entresignos do bem e do mal
E aos deuses aquieta dúvidas e revoltas
Entre tantas quedas que foram
E outras que virão,
O silêncio das horas, 
O silêncio que mora e invade cada território deste coração,
Ah, tão vasto e fechado e duro coração,
Tu, que sentes do silêncio as horas
O presságio, o sinal, a seta, o espaço,
Tu, coração que te sabes tão vago
E imperpétuo, e imperfeito, e músculo e carne
Que é onde moro agora,
Amarrado ao silêncio das horas que me invade
De continente em continente estelar
No tempo a vagar em busca da verdade
E de um caminho de volta para casa.

Sim, o silêncio das horas, imperativo absoluto,
Acasalar de solidões silentes sobre lençóis de cambraia,
Carícia desdobrada em dedo de seda e erva e uva e memória,
Silêncio das águas tantos átomos oxis, hidrogênio,
Águas tão doces e de beber tão ácidas.

Perversa hora em que caem os céus
E tremem os horizontes
E fogem aos pés a terra,
Tão temível hora do silêncio e do relâmpago,
A hora em que te amei,
Como um palhaço enfeitado do silêncio das horas,
Assim como te amo agora,
No silêncio das horas,
Assim como te amarei,
No silêncio das horas,
Até o último final da minha última hora.
No silêncio das horas.

2 de fevereiro de 2011**



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