MONTANHA
Então, que falarei agora?
Falarei de verdade, mas de verdade mesmo;
Acaso odeio eu o pé-de-cana?
As longas folhas farfalhando dedos de seda e palha,
Cantar de nuvens doces verduras
Ao sopro do vento que vem de longe para com elas dançar,
Carícia com mãos de veludo na boca do céu.
Acaso está ali, sobre vermelha alana o mal plantado?
Mas como pode o mal da terra florescer doçuras?
E acaso a terra é má ou tem maldade?
Quem enfeitiçou o pé de romã?
Que ordem autorizou o mal
Habite o pé de romã para que dê maus frutos?
Falarei da minha dor,
Mas jamais vereis minha dor mostrada aqui.
Sim, escorre espessa a amargura pela parede:
Não se sente bem o mago,
Menos ainda o poeta ao divisar
Da soleira da porta o quintal,
No céu as estrelas umas às outras se engolindo,
Na terra o pai a tornar a flor filial herança bastarda,
A mulher descalça a mandar à merda a paciência e a calma.
Na grande arena o jogo promessas rasga,
No imensurável palco da vida um vigia,
Outro desarma, aquela engatilha
E todos morrem abandonados à paisagem,
Os minutos e as horas sendo cobertos de farsa,
Vórtice-buraco-negro na rede vestidos na malha da vaidade,
Todos tragados na voragem da solidão.
13.03.2013
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